Narcisistas, Macacos Voadores e a Armadilha do Falso Arrependimento

No dia 17 de dezembro, uma ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, reacendeu o debate sobre o uso de câmeras corporais em operações policiais. Sem os dispositivos que garantiriam a transparência da atuação, os agentes tentaram impedir que um advogado gravasse a abordagem em andamento. O episódio expõe fragilidades de um sistema que, supostamente, deveria priorizar a accountability e a segurança dos cidadãos.
De acordo com relatos, o advogado que tentava registrar a ação foi confrontado de forma ostensiva, em uma clara tentativa de impedir a documentação independente de possíveis abusos. O direito de filmar ações públicas é garantido pela Constituição Federal, desde que não obstrua o trabalho dos agentes. Ainda assim, episódios como este revelam o desconforto de certas forças de segurança com a ideia de serem fiscalizadas.
A ausência de câmeras corporais no uniforme dos policiais intensifica as preocupações. Estudos e experiências em outros estados e países demonstram que a utilização desses dispositivos reduz drasticamente denúncias de violência e maus-tratos, promovendo maior confiança entre a população e as forças policiais. Contudo, no Rio de Janeiro, a implementação de câmeras corporais segue atrasada e enfrenta resistência interna, sob o argumento de que prejudicaria a "dinâmica operacional".
Esse caso específico levanta uma questão central: o que motiva a resistência à transparência? Em uma sociedade democrática, o uso de tecnologias que assegurem os direitos de todos — tanto dos agentes quanto dos cidadãos — deveria ser a norma, não a exceção. A tentativa de impedir o registro por parte do advogado não apenas compromete a percepção pública da ação do Bope, mas também reforça a sensação de impunidade e arbitrariedade em operações policiais em áreas vulneráveis.
A Rocinha, marcada por um histórico de violência policial, precisa mais do que nunca de mecanismos que garantam a dignidade e os direitos de seus moradores. A presença de câmeras corporais em operações policiais seria um passo crucial para reverter anos de desconfiança e criar uma relação mais equilibrada entre as forças de segurança e a comunidade.
O silêncio das autoridades sobre o ocorrido também é preocupante. Casos como este deveriam ser tratados com a máxima transparência, incluindo investigações rápidas e a adoção de medidas corretivas. Não se trata de enfraquecer o trabalho policial, mas de fortalecê-lo com práticas alinhadas aos princípios democráticos.
Enquanto as câmeras corporais continuarem ausentes e o direito de registrar ações policiais for ameaçado, episódios como o da Rocinha continuarão a expor as profundas lacunas de accountability na segurança pública brasileira. A pergunta que fica é: até quando a transparência será vista como inimiga por aqueles que deveriam zelar pela lei?
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